sábado, 11 de agosto de 2012

"Fomos vítimas do descaso", protesta pai de gêmeos que morreram por falta de UTI neonatal

Enquanto entidades médicas e o Ministério Público cobravam autoridades de saúde pública, Rafael Moreira sepultava os filhos Alerrando e Aleksander na sexta-feira, em Piratini. Os gêmeos prematuros morreram três dias após atendimento em um berçário improvisado em Canguçu.

Pouco depois de enterrar os filhos e sem a presença da mulher, Andrizi, que segue internada em Canguçu, Moreira conversou com Zero Hora sobre a morte dos dois meninos.

Zero Hora — O senhor acredita que seus filhos poderiam ter sobrevivido se tivessem o atendimento adequado desde o nascimento?
Rafael Moreira — Tudo poderia ser diferente. Se quando os meus filhos nasceram tivessem sido internados direto em uma UTI neonatal poderia ser que eu estivesse voltando para casa com eles nos braços e não em caixões. O governo investe em tantas outras coisas e a saúde, que é o nosso bem maior, está tão precária — hoje (ontem) nós e os meus filhos fomos vítimas do descaso.

ZH — Como você recebeu a notícia da morte dos bebês?

Moreira
 — Fazia duas horas que eu tinha saído do hospital quando recebi a notícia da morte do primeiro bebê. Quando estava chegando a Piratini, para velar o meu filho, veio mais um telefonema, o outro também não conseguiu resistir. A minha mulher, que continua se recuperando do parto, viu os meninos uma só vez e precisou ser medicada quando soube que não terá uma outra chance. Sabe o que eu fico me perguntando? Por que durante 10 dias a resposta que nos davam é de que não havia leitos e quando eu procurei a Justiça esses dois leitos tão esperados apareceram em menos de 24 horas? Isso me faz acreditar que existiam meios para conseguir essas vagas antes. Estou analisando a possibilidade de entrar com uma ação judicial contra o Estado porque, nesse caso, eles podem ter sido responsáveis pela morte dos meus filhos.

ZH — Depois de passar por essa situação, o que muda para a sua família?

Moreira
 — Não sei como vai ser daqui para frente. A minha mulher quer que eu desmonte o quartinho deles antes de ela voltar para casa. É o pior momento das nossas vidas e pode mudar tudo para sempre, não sei se conseguiremos pensar em mais filhos daqui para frente"Fomos vítimas do descaso", protesta pai de gêmeos que morreram por falta de UTI neonatal Diogo Sallaberry/Especial

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