terça-feira, 15 de maio de 2012

Sertório é a avenida de Porto Alegre mais perigosa para ciclistas


Sertório é a avenida de Porto Alegre mais perigosa para ciclistas Fernando Gomes/Agencia RBS
Ciclistas que usam a Avenida Sertório correm risco de acidente por trafegarem junto aos veículosFoto: Fernando Gomes / Agencia RBS
Paradoxalmente, a Avenida Sertório, na Zona Norte, aparece na lista das mais violentas vias da Capital para quem anda de bicicleta. O mesmo fator que a torna convidativa aos ciclistas é o que lhes põe em risco constante: a ausência de desníveis na pista ou curvas acentuadas.

De janeiro a abril deste ano, foram cinco feridos em horários e pontos variados dos 8,8 quilômetros de extensão da via, que engrossam a lista de 83 acidentes. João Fortini Albano, professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) acredita que o número se explique por causa da característica da via, que serve de passagem para trabalhadores diariamente. 

— A Sertório é um local onde muita gente usa bicicleta para trabalhar de forma compartilhada com o trânsito de carros, motos e caminhões de médio porte. É uma das nossas vias arteriais mais carregadas — destaca o professor. 

Em segunda colocada está a Avenida Juca Batista, na Zona Sul, com quatro acidentes este ano nos seus 10,5 quiômetros de extensão — em 2011 foram nove incidentes em 12 meses. 

Na sequência, com dois registros cada, estão a as avenidas Assis Brasil, Ipiranga, Cavalhada, Farrapos, Protásio Alves, Estrada Otaviano José Pinto e duas do bairro Restinga: João Antônio da Silveira e Nilo Wulff. Os dados são referentes a um levantamento realizado pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) à pedido de Zero Hora. 

De acordo com o diretor-presidente do órgão, Vanderlei Cappellari, para solucionar o problema da Sertório, está programada uma ciclovia, cujo primeiro trecho, de 1,2 quilômetros, nas proximidades do Aeroporto Salgado Filho deve ser iniciado até setembro deste ano. 

O presidente da recém-fundada, Associação dos Ciclistas de Porto Alegre, Pablo Weiss, acredita que o número de acidentes seja ainda maior, já que boa parte de quem usa a bicicleta e se acidenta prefere não registrar ocorrência. Weiss, que eventualmente, utiliza a Sertório destaca que em horários de movimento até os ciclistas ficam engarrafados. 

— É tão perigosa quanto a Protásio Alves, na altura da Ramiro Barcelos, pelo mesmo motivo. Em hora de pico todos lutam por um espaço e acabam respeitando menos do que já respeitam. Têm pontos críticos pelos estreitamentos de pista. Tantos acidentes ocorrem por que o motorista ainda acha que o ciclista tem de andar em cima da calçada — comenta Weiss.

Gilmar Cardoso da Silva é ciclista há 16 anos e também sofre, só que em outro canto da cidade. Morador da parada 44 de Viamão, Gilmar percorre 20 quilômetros que separam a casa da loja onde trabalha, na Rua Santana, em Porto Alegre, e conta que o trecho mais tenso do percurso está entre a PUCRS, na Ipiranga até a Santana.

— Não tem espaço para andar de bike. Muitas vezes paro para esperar o carro passar ou subo na calçada para evitar acidentes — destaca o vendedor.

Silva anda a uma velocidade média de 25 km/h, nunca sofreu acidente, mas perdeu as contas de quantos buzinaços ouviu pelo deslocamento no pedal. Para quem vai começar com o esporte, avisa:

— A pessoa que está de capacete mostra que está mais consciente no trânsito e isso já impõe mais respeito aos motoristas — aposta Silva. 

Na comparação dos primeiros quatro meses do ano, 2012 teve apenas três acidentes com ciclistas a menos do que em 2011. Nos dois últimos anos, houve um recuo de 17% nas ocorrências, conforme a EPTC. O especialista em Transporte, João Fortini Albano, não se alegra com o quadro e destaca que ainda é cedo para atestar uma mudança no perfil da cidade com relação às bicicletas. 

— É uma visualização estatística pequena, mas importante. Desde o atropelamento coletivo em 2010, a bicicleta entrou na pauta dos assuntos e da mobilidade urbana. Mais pessoas estão usando-a como modalidade de transporte e, de uma forma geral, está sendo vista como meio para ajudar a melhorar a circulação na cidade — destacou o professor. 

O proprietário de um serviço de bike-entrega sentiu nos negócios o reflexo da selvageria no trânsito. Em 2009, logo que inaugurou a empresa, toda a semana Kais Ismail, 48 anos, tinha um funcionário machucado encaminhado ao hospital. Decidiu encerrar os trabalhos. 

— A gota d'água foi quando um rapaz veio fazer uma experiência e foi atropelado no primeiro dia. Perdi a bicicleta, paguei uma indenização. Foi um trauma também pelo risco de vida aos funcionários — destacou Ismail.

Após mais de um ano de entregas suspensas, Ismail se sente encorajado para reabrir a loja.

— Não dá para dizer que está 100%, mas o trânsito está muito melhor para os ciclistas — disse o empresário.

Vanderlei Cappellari, diretor da EPTC acredita que as intervenções e a atenção ao assunto tenha gerado maior consciência de todas as partes. Para ele, um dos projetos que tem surtido efeito foi a elaboração de uma cartilha de boas maneiras distribuída, desde o início do ano, aos motoristas para que saibam como lidar com quem está na bicicleta. 

O que o Código Brasileiro de Trânsito (CBT) prevê para motoristas e ciclistas: 

— Ao caminhar empurrando a bicicleta, o ciclista se equipara ao pedestre em direitos e deveres.

— Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulação de bicicletas deverá ocorrer quando não houver espaço próprio para os ciclistas, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores.

— São equipamentos obrigatórios para as bicicletas, a campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais, e espelho retrovisor do lado esquerdo.

São infrações médias com multa:

— Deixar de guardar a distância lateral de 1m50cm ao passar ou ultrapassar bicicleta. — Conduzir bicicleta em passeios onde não seja permitida a circulação desta, ou de forma agressiva.

Dicas de segurança para os ciclistas

— Ao pedalar nas ruas e rodovias fique atento para monitorar e ouvir o que acontece em sua volta, como freadas, buzinas, carros se aproximando e outros sons. Deixe o uso de fones de ouvido e aparelhos de som para passeios em lugares mais tranquilos.

— Circulando por vias com semáforos, comporte-se como os demais veículos, parando quando o sinal estiver vermelho e seguindo em frente quando estiver verde.

— Quando estiver pedalando, não circule pelas calçadas. Caso precise andar pela calçada, desça da bike e caminhe empurrando-a com a mão. Sempre sinalize suas manobras com o braço esquerdo, indicando conversões à direita, esquerda ou parada. Vale a pena conferir se o motorista viu e entendeu o seu sinal.

— Em ruas com trânsito intenso de veículos, é mais seguro desmontar da bicicleta e atravessar na faixa como um pedestre. 

— Conversões à esquerda merecem cuidado especial. Se você se sentir mais seguro, pare do lado direito da pista, junto à calçada e aguarde uma brecha para cruzar com tranquilidade. Também é possível atravessar empurrando a bicicleta pela faixa de pedestres.

— Esteja sempre pronto para frear: não ande sem as mãos no guidão, não faça piruetas, nem fique ziguezagueando entre os veículos. 

Fonte: Equipe de Educação para o Trânsito da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC)Sertório é a avenida de Porto Alegre mais perigosa para ciclistas Fernando Gomes/Agencia RBS

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