segunda-feira, 4 de junho de 2012

Arquiteto britânico faz críticas a projeto de vila reassentada em Porto Alegre


Pouca oferta de trabalho, baixa durabilidade das casas e falta de obras verdes são ressalvas de palestrante do Fronteiras do Pensamento à Nova Chocolatão

Passado mais de um ano do reassentamento da Vila Chocolatão, na Avenida Loureiro da Silva, para o residencial Nova Chocolatão, na Protásio Alves, a transferência é vista como bem-sucedida pela prefeitura de Porto Alegre. Tanto que a ideia será apresentada durante a Rio+20 e foi levada a Moçambique, África do Sul e Canadá, onde os governos locais pretendem implantar iniciativas parecidas.
No entanto, o arquiteto Cameron Sinclair, sócio-fundador da Architecture for Humanity (AFH ou Arquitetura para Humanidade), palestrante desta segunda-feira do projetoFronteiras do Pensamento, vê com ressalvas alguns pontos, após visita durante a manhã ao local onde a vila foi transferida. 

Uma das questões a solucionar é a falta de oferta de trabalho aos moradores. Antes, a maioria era autônoma e atuava como catador de lixo no Centro. Agora a proposta é que, em uma associação, as pessoas sejam recicladoras. Os resíduos da coleta seletiva são levados para um galpão de reciclagem, separados e vendidos para empresas privadas, o que está, de fato, ocorrendo. Porém, são apenas 40 chefes de família na atividade — no lugar vivem 180 famílias. A prefeitura planeja dobrar a quantidade de trabalhadores e operar na capacidade máxima de tempo e funcionários, mas ainda assim nem 50% dos moradores teriam emprego garantido na recicladora. Outros, segundo a prefeitura, teriam obtido trabalho fora da reciclagem, com carteira assinada. 

— Estou desempregada há dois meses. Saí do galpão de reciclagem por motivo de doença e agora estou na fila para voltar, mas não tem vagas — reclama uma das moradoras. 

Outro ponto é a baixa durabilidade do material de construção das casas. O arquiteto avalia que a cobertura das habitações, por exemplo, pode durar somente de 10 a 15 anos. E, fora a reciclagem em si, o residencial tem deficiência de projetos arquitetônicos sustentáveis: 

— Os tetos poderiam ter captação para energia solar, poderia haver um reservatório que aproveitasse a água da chuva — sugere. 

 
Arquiteto visitou creche, biblioteca e galpão de reciclagem
Foto: Ronaldo Bernardi/Agência RBS

O britânico ressalta que a transferência ocorreu do modo correto, articulando informação, debate e aprendizado entre poder público e comunidade. Ele evita fazer previsões, mas acredita que, se os dois lados souberem superar as dificuldades, a Nova Chocolatão pode vir a ser um exemplo.
Acompanhado pelo prefeito José Fortunati, pelo secretário de coordenação política e governança local Cezar Busatto e por funcionários municipais, Sinclair conheceu também a creche comunitária Nossa Senhora Aparecida, que atende parte das crianças do residencial, a biblioteca comunitária e o galpão de reciclagem.
A visita foi promovida pela prefeitura e pela Braskem, que estão entre os organizadores do Fronteiras do Pensamento. O projeto é apresentado pela Braskem e tem patrocínio de Unimed, Natura, Gerdau e Grupo RBS. Conta com a UFRGS como universidade parceira, o apoio da Petrobras no módulo educacional e parceria cultural de Unisinos, prefeitura de Porto Alegre e governo do Rio Grande do Sul.Arquiteto britânico faz críticas a projeto de vila reassentada em Porto Alegre Ronaldo Bernardi/Agencia RBS

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