terça-feira, 27 de março de 2012


Demolição de casas para obra em aeroporto cria bairro fantasma em Porto Alegre

Retirada de residências para realização da extensão da pista do Salgado Filho deixou um cenário de guerra no Jardim Floresta

Demolição de casas para obra em aeroporto cria bairro fantasma em Porto Alegre Diego Vara/Agencia RBS
Em meio às moradias de classe média localizadas em área da Zona Norte, encontram-se lixo, ratos, além de moradores remanescentesFoto: Diego Vara / Agencia RBS
O projeto de ampliação da pista do Aeroporto Internacional Salgado Filho, que enfrenta a ameaça de não sair do papel, já criou uma espécie de bairro fantasma na zona norte de Porto Alegre. 

A perspectiva de extensão do trecho para pousos e decolagens levou à demolição de quase uma centena de casas no Jardim Floresta. Como a obra se arrasta devido à burocracia, a região permanece como um amontoado de escombros a céu aberto.

Em meio aos destroços de antigas moradias e empresas, mais de 40 famílias convivem com o acúmulo de lixo, usuários de drogas e saques.

O impacto mais visível do projeto de aumento da pista em mais 920 metros é a remoção da Vila Dique, área pobre localizada junto à extremidade Leste. Entre a Dique e a Avenida Sertório, porém, parte de um bairro com ares de classe média esconde um cenário que lembra uma guerra. 

Ao redor das moradias destruídas ou parcialmente em pé, encontram-se restos de tijolo e cimento, montes de lixo, ratos – e moradores remanescentes.

Saqueadores passaram a frequentar a região

Ubirajara Santos de Oliveira, 46 anos, já viu todos os amigos de infância receberem a indenização pela desapropriação dos imóveis e partirem. Como ele era inquilino e não tem para onde ir, a exemplo de outras quatro dezenas de famílias, continua vivendo no local à espera de uma solução envolvendo prefeitura, Infraero e governo estadual. 

Ele lamenta que as ruas de sua infância tenham sido devastadas antes de surgirem as dúvidas sobre a viabilidade da ampliação da pista – cuja necessidade de reforço no solo encareceria demais o projeto.

— Eu fazia churrasco todo final de semana com os amigos. Agora todo mundo foi embora — comenta, em meio a uma rua repleta de casas semidestruídas a apenas uma quadra da movimentada Avenida Sertório.

Outra moradora, Josiane Farias dos Reis, 29 anos, confessa que teme pela segurança dos dois filhos, de um e cinco anos. Com a destruição maciça de imóveis, a zona passou a ser frequentada por saqueadores e usuários de drogas. 

Na parede de uma casa próxima, lê-se a mensagem “não fumar pedra aqui”. Presa a um poste, uma placa avisa “proibido lixo e entulho, seu porco”. Tudo em vão.

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